Capturados pela cleptomania



Distúrbio estimula furto de objetos dos quais a pessoa não tem necessidade


A cleptomania não é um distúrbio comum. Estimativas como a da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que apenas 5% daqueles que cometem furtos apresentam o problema, enquanto na população em geral o distúrbio atinge cerca de seis pessoas em cada mil. O termo vem do grego – kléptein, roubar, subtrair – e foi usado pela primeira vez em 1836 pelo psiquiatra francês Jean-Etienne Dominique Esquirol para indicar uma irresistível propensão ao furto causada, não por uma falta de senso moral, mas por um distúrbio da mente.

Nas últimas duas décadas foi possível observar o aumento de interesse de médicos e pesquisadores em aspectos psiquiátricos e neurobiológicos do transtorno. Do ponto de vista médico e legal o distúrbio pode ser considerado uma conduta compulsiva que compromete gravemente a possibilidade da pessoa de determinar o próprio comportamento. Os cleptomaníacos roubam sem a ajuda de cúmplices e agem de maneira impulsiva – embora geralmente se sintam culpados, percebam o risco de consequências legais e procurem evitá-lo. Além disso, não tiram proveito dos objetos roubados: na maioria das vezes, os jogam fora ou os oferecem de presente, mas podem também colecioná-los e até devolvê-los às escondidas, o que aumenta o perigo de serem pegos. Em casos em que é realizado de improviso, de maneira quase automática, como em transe, o furto pode ter a função de servir aos pacientes para regular os próprios estados de ânimo e combater sentimentos depressivos: nessas ocasiões pode ser recomendado o uso de medicamentos que reduzam a impulsividade e estabilizem o humor, como os antiepiléticos ou os sais de lítio.

O pesquisador Eric Hollander, da Mount Sinai School of Medicine de Nova York, foi pioneiro no agrupamento de patologias bastante heterogêneas no espectro obsessivocompulsivo. Nos dois extremos estão, de um lado, os sintomas mais claramente ditados pela compulsão, como os rituais e a anorexia nervosa, e, do outro, os dominados pelo impulso, como os jogos de azar patológicos, a dependência de substâncias químicas, a bulimia e a cleptomania. As primeiras são mais frequentemente associadas à depressão, enquanto as segundas ao transtorno bipolar. A semelhança do comportamento dos cleptomaníacos com o dos toxicodependentes, que buscam de modo repetitivo uma recompensa específica apesar dos riscos e das desvantagens para sua vida, levou alguns pesquisadores a usar na cleptomania alguns medicamentos que combatem o efeito dos opioides endógenos, com resultados aparentemente encorajantes. O pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Minnesota John Grant, um dos maiores especialistas mundiais em cleptomania, ressalta que existem vários subtipos do distúrbio que podem fazê-lo se parecer mais com uma patologia obsessivo-compulsiva, um transtorno do humor ou uma dependência: por isso a escolha do tratamento deve ser precedida, para não se tornar ineficaz, por uma avaliação cuidadosa e individualizada do paciente. Mas em qualquer situação, com ou sem o uso de medicamentos, o acompanhamento psicoterápico é fundamental.


Fonte: www2.uol.com.br/vivermente/noticias/capturados_pela_cleptomania.html

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