Praticando o Desapego da Dor Emocional
Em todo tempo queremos nos sentir bem, por isso quando nos sentimos mal, mesmo que temporariamente, experimentamos algum tipo de dor emocional. Se os sentimentos negativos se mantiverem por um tempo prolongado, pode nos levar a um apego de identidade a esse estado incapacitante. Podemos entrar numa luta contra a dor emocional, rejeitando-a. Num estado de rejeição do nosso próprio estado, num estado de ressentimento perante algo que nos causa mal-estar, ficamos numa posição difícil para superar os sentimentos negativos que nos abrem constantemente feridas emocionais. Eventualmente, julgamos que algo de errado se passa conosco, que devemos ter um problema grave, ou que somos vítimas de um problema psicológico que nos ultrapassa. Provavelmente nada disso se passa, o que na grande maioria das vezes acontece, é que, por desconhecimento, julgamos que não conseguimos suportar a dor emocional, e que ela tem forçosamente de nos fazer infelizes. Mas não tem. Aceitando e aprendendo a desapegar-se da sua dor emocional, você consegue ficar capacitado para suportar o mau momento que possa estar atravessando e, permitir-se focar alguma da sua energia em estratégias de melhoria, sem que se sinta diminuído ou esmagado pelo sofrimento emocional.
CICLO VICIOSO NEGATIVO
Quando julgamos que a dor emocional, o mal-estar, a ansiedade ou um estado deprimido tomou conta de nós, mesmo que seja sem uma forte razão, a nossa mente tem tendência para começar a tecer comentários em tom de crítica negativa acerca de nós mesmos. Aqui começa a espiral negativa que pode efetivamente tornar-se no seu maior problema. Ou seja, o seu estado menos bom que poderia ser temporário, dado que não conseguiu aceitá-lo e separar-se dele (separar-se da sua identidade) ganhou vida própria e começou a minar todas as suas áreas de vida.
Exemplo: Eu não me sinto bem hoje. Sinto-me abatido. Ao longo do tempo tenho me sentido deprimido, e hoje não é um bom dia. O que me dá vontade de fazer é voltar para a cama, me enrolar nos cobertores e dormir, ficar longe de tudo e de todos. Faço qualquer coisa para tirar a minha mente do foco dos meus sentimentos e dos meus pensamentos derrotistas e desesperançados. A pior parte do meu estado de abatimento e desânimo é muitas vezes o que se passa na minha cabeça. A minha voz interior faz disparar alguns pensamentos muito bizarros, depois de algum tempo eu me ligo a esses pensamentos e me sinto ainda pior:
“O que está errado comigo? Tudo está bem na minha vida e eu ainda estou deprimido. Sou um perdedor.”
“Oh, ótimo. Mais um dia em que não vou fazer nada. Sou tão preguiçoso.”
“Se as pessoas realmente soubessem como sou, elas não iriam acreditar numa palavra que eu dissesse.”
“Eu não presto”.
“Sou um fraco.”
Deixe-me adivinhar. Você já teve experiências semelhantes a esta. Você pode não estar deprimido, mas talvez tenha andado ansioso, preocupado, ressentido ou agitado. Ou talvez você se sinta angustiado, confuso, indisciplinado, e sem foco. Ou talvez esteja passando por um momento difícil devido a um conjunto de razões. E, a sua voz interior te deixa pra baixo, e eventualmente você sente que entrou num ciclo vicioso.
A RESISTÊNCIA É INÚTIL
Inevitavelmente aquilo em que focamos a nossa atenção se expande. E, isso é igualmente viável para todos os nossos sentimentos e sofrimento emocional. Claro que tudo aquilo que você mais quer é se ver livre do seu mal-estar, eventualmente dizendo: “Eu não quero me sentir assim.” O que acontece é que apenas por ação da vontade nós não conseguimos mudar de estado. Conseguimos mudar sim, mas temos de implementar estratégias de mudança de foco da atenção e de orientação de pensamentos e ações. Então, quando você não aceita os seus sentimentos negativos e sensações corporais negativas, aciona o processo de foco sobre o seu estado de mal-estar, aumentando ainda mais a sua dor emocional.
Você tem de entender que as emoções negativas e pensamentos negativos se expressam em nós, fazem parte de nós. Não resistir-lhes é uma benção que permite aceitá-los. Ao aceitar você fica numa posição para lidar de forma mais eficaz com todo o seu incômodo dando-lhe disponibilidade mental para dirigir o foco para estratégias que contribuam para melhorar o seu estado atual.
A saber: A resistência tende a ampliar o efeito dos pensamentos e sentimentos dolorosos, em vez de reduzi-los ou fazer com que se extingam.
PRATICAR O DESAPEGO
Faça este pequeno exercício comigo:
Coloque as palmas das mãos para cima. Agora, traga as suas mãos até ao seu rosto, para que fiquem a alguns centímetros do seu nariz. O que você vê? Provavelmente, você pode ver pequenos raios de luz através das pequenas aberturas entre os dedos e pode ver alguns objetos nebulosos na sua visão periférica. Agora imagine que eu estou sentado à sua frente e, você mantém a posição das mãos. Você pode ouvir-me, mas será que se sente ligado a mim? Você pode ver as minhas expressões faciais e linguagem corporal? Certamente que toda a sua percepção fica alterada pelo seu campo de visão.
Será que com as mãos nessa posição, você pode funcionar eficazmente? Você pode dirigir um carro, usar um computador, ou dar um abraço em alguém? Agora o que vamos fazer? Uma vez que as nossas mãos são uma parte de nós, sabemos que não podemos livrar-nos delas. Então, precisamos afastá-las para longe do nosso nariz, precisamos ter mais espaço para que possamos ver o que está acontecendo ao nosso redor e ser capaz de interagir com o mundo.
Agora abaixe lentamente as mãos para longe do seu rosto. Observe como você pode ver com mais claridade tudo o que está ao seu redor. Aproxime as mão das suas pernas, deixe-as separadas e a descansar confortavelmente nas suas pernas. As suas mãos estão agora livres para dirigir um carro, usar um computador, e dar um abraço a alguém . E você pode me ver e a tudo o mais que esteja na sua frente.
As suas mãos representam os seus pensamentos e sentimentos quando você está viciado e apegado a eles.
Quando as suas mãos estavam na frente do seu nariz, simbolizava o quão focado você estava na sua experiência interna que não conseguia interagir muito bem com os outros, ver o que estava acontecendo ao seu redor, ou ter um funcionamento eficaz.
Então, como é que você vai baixar as suas mãos, ou seja, como se desapega dos seus pensamentos e sentimentos que lhe provocam dor emocional?
Dica: Se permita experienciar os seus sentimentos e pensamentos, e aceite-os exatamente da forma como eles se expressam em você, sabendo que tem a capacidade para regulá-los.
OBSERVE A SUA EXPERIÊNCIA
O objetivo de aceitarmos e desapegarmo-nos dos nossos pensamentos e sentimentos é nos tornarmos mais conscientes das nossas próprias experiências. Simplificando, é estar consciente da nossa experiência presente sem julgamento (atenção plena). Não quer dizer que não possamos posteriormente avaliar se os pensamentos e sentimentos nos servem ou não. Devemos fazê-lo numa fase posterior, mas levando dois pontos em consideração:
Não podemos deixar de sentir determinados sentimentos que se manifestam no nosso corpo, nem podemos evitar que determinados pensamentos nos surjam na mente.
Nós não somos os nossos sentimentos nem pensamentos, pelo que devem ser filtrados pela nossa consciência para que não julguemos que somos tudo o que sentimos ou pensamos.
Assim, quando a nossa mente produz pensamentos que são angustiante para nós, numa primeira fase deveremos apenas observá-los. Não devemos acrescentar mais nada a esses pensamentos ou julgá-los de qualquer forma. Devemos fazer como se fossem carros passando na porta da nossa casa.
Fonte: escolapsicologia.com(adaptado)
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