Dia dos Namorados: Expectativas Exageradas e Frustrações
Existe um assunto bastante presente em todos os consultórios de atendimento psicoterápico: Os relacionamentos amorosos. Conflitos e insatisfações conjugais costumam gerar grande sofrimento emocional e a aproximação da data em que comemoramos o dia dos namorados aumenta ainda mais as expectativas, frustrações e medos que envolvem a temática.
Qualquer pesquisa informal na internet sugere algumas definições para o termo “Namoro”. A origem da palavra parece ser do verbo em espanhol enamorar, que por sua vez tem origem na expressão estar en amor, ou seja, se apaixonar por alguém. Nos dias atuais namoro é algo bastante plural, considerando diferentes regras pessoais e culturais, as diferentes perspectivas tendem a ir de uma visão mais conservadora de um “período que antecede o noivado e o casamento”, até as mais liberais concepções de amores livres e efêmeros. Entretanto, apesar das tentativas de reformular a maneira como enxergamos essas relações, para a maioria das pessoas, encontrar um acompanhante para a vida, que supra todas nossas necessidades emocionais e lhe ofereça a sensação de um vínculo seguro, ainda é uma obrigatoriedade. Mas de onde vem essa ideia de obrigatoriedade?
Para Bowlby (1984), criador da Teoria do Apego, a função da vinculação é primária e cumpre um objetivo evolucionista de sobrevivência, visando mais a proteção do que a reprodução sexual. O autor afirma que a capacidade de um indivíduo estabelecer vínculos afetivos de um tipo adequado é tão importante quanto outras necessidades primárias como, por exemplo, alimentação. Na mesma direção, Paul Gilbert (2007), autor da Terapia Focada na Compaixão, explica que os seres humanos possuem uma necessidade inata de vínculo seguro e pertencimento, que é manifestada desde as relações primárias com os cuidadores, até as relações de amizades, grupos sociais e relações amorosas. Essa necessidade de estimular afeto positivo na mente dos outros acaba por gerar regras de competências positivas para atingir tal finalidade.
Já Young (1990), na Terapia do Esquema, entende que as relações íntimas, quando conseguem satisfazer as necessidades de vínculo seguro, cuidado, aceitação e pertencimento (dentro dos parâmetros possíveis de uma relação não parental), podem ter um papel fundamental na saúde mental dos indivíduos. No entanto, o autor alerta sobre os perigos de depositar na relação amorosa cobranças exageradas de satisfação completa, já que essa idealização acabaria por gerar frustrações e a manutenção de crenças negativas disfuncionais sobre si mesmo, sobre os outros e sobre as relações. Tais crenças, geralmente, são formadas por experiências de insatisfação de necessidades primárias com os cuidadores, sendo que a carência de vivências emocionais satisfatórias na infância podem gerar estratégias de enfrentamento hipercompensatórias na vida adulta, o que impedem o potencial saudável e reparador de uma relação.
O dia dos namorados e o apelo comercial envolvido podem desencadear cobranças infundadas por provas de amor e valorização, desencadeando sensações bastante negativas em indivíduos com ou sem relacionamentos estáveis. Uma visão menos autocentrada e com maior compaixão consigo e com o parceiro, por outro lado, pode revelar-se uma maneira mais eficaz de atingir as necessidades emocionais fundamentais. Para tal, saber o que é realmente fundamental em um relacionamento e exigir o que é possível do outro ou de si mesmo são imperativos.
Fonte: wainerpsicologia.com.br/blog/?p=560
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