Abra mão do controle
A vida não é como um jogo cujo controle está nas nossas mãos o tempo todo.
Confiar que algo pode dar certo independentemente do seu comando traz equilíbrio e leveza.
De tanto ouvirmos e lermos que devemos assumir o controle da vida, seguimos o conselho à risca. Não há nada de errado em querer dirigir a própria existência. O problema está no exagero, em acreditar na ilusão de que se pode dominar tudo.
Sofremos, então, porque nem tudo depende de nós. E porque quando programamos nossa rotina com precisão matemática aumentamos o risco de frustração quando algo sai diferente do que planejamos.
Assim, tiramos da vida a capacidade de nos surpreender com caminhos mais interessantes que os escolhidos por nós.
O controlador é perfeccionista, vive em busca do que julga ser a perfeição como quem procura por um tesouro atrás do arco-íris mesmo sem poder alcançar.
O perfeccionista é um vigilante que não se permite fechar os olhos de seus objetivos, porque tem a sensação de que basta um cochilo para tudo dar errado.
A pessoa controladora acha que é a única que sabe gerenciar tudo. Ela sofre um desgaste continuo porque está sempre em estado de alerta.

É claro que devemos nos posicionar diante de muitos acontecimentos do nosso dia a dia, mas sem uma rigidez que prejudique nossa saúde e relacionamentos.
A linha do controle obsessivo e controle saudável é tênue.
O controlador nunca relaxa, tem músculos tensos, dorme mal e tende a ter pressão arterial alta, respiração e batimentos cardíacos acelerados e passa por tempestades emocionais quando se percebe sem controle.
Na busca pelo controle, o perfeccionista pode se tornar hostil, ter explosões de raiva e ser agressivo, o que fatalmente atinge quem está por perto.
O controlador, na verdade, quer o melhor pra si e para os outros, mas erra na medida e invade o espaço alheio, as vezes sem perceber.
"O controlador tolhe a criatividade dos outros porque precisa fazer as coisas de acordo com os padrões dele"
Ana Maria Rossi (ISMA BR)
Como ajustar esta medida? Dosar a autoridade para não ser autoritário, uma pitada de humildade, e confiar mais no outro.
"Nós controlamos claramente nossas decisões. Podemos decidir se investiremos nossas economias no mercado de ações (...) ou se levaremos o nosso guarda chuva. Porém, não temos nenhum controle se o mercado de ações irá subir ou descer, ou se vai chover. No fim, nosso sucesso ou fracasso é uma combinação das nossas próprias ações e do efeito do ambiente".
Making Luck Work for You (livro)
Como uma borboleta que sai do casulo, assim o controlador também precisa sair do seu próprio casulo - o controle - que é feito do prazer de exercer o poder, insegurança e medo de sentir dor. E rompe-se isso delegando responsabilidades mesmo que tenha que ensinar a pessoa.
É importante que faça perguntas chaves para si: qual é a necessidade que tenho de manter todo esse controle? O que estou afirmando para mim mesmo? Qual o custo do meu comportamento? O que está acontecendo fisiologicamente e emocionalmente comigo?
Não é fácil questionar-se mas vale a pena.
Concluindo, controlar o nosso próprio pensamento é a única tarefa possível e mais eficaz que tentar controlar o ambiente.
Fonte: Revista Vida Simples - edição 162 (adaptado)
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