O que são Esquemas Desadaptativos?




Os esquemas desadaptativos são padrões emocionais, cognitivos auto derrotista iniciados em nosso desenvolvimento desde cedo e repetidos ao longo da vida.

O comportamento de um indivíduo não pertence ao esquema em si. Os comportamentos desadaptativos desenvolvem-se como resposta a um esquema. Sendo assim os comportamentos são provocados pelo esquema, mas não se constituem como parte deles, tidos como estilo de enfrentamento.

Os Esquemas Desadaptativos (EDs), são “crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente”, representando o nível mais profundo da cognição, e “operam de modo sutil, fora de nossa consciência”. Os EIDs se referem a “temas extremamente estáveis e duradouros que se desenvolvem cedo durante a infância, são elaborados ao longo da vida e são disfuncionais em um grau significativo”, compõe núcleos profundos do seu “eu” refletidos na auto-imagem tácita, como uma visão de si mesmo orgânica e inquestionável.

São rígidos e incondicionais, como, por exemplo, quando a pessoa sente que, não importa o que possa fazer, não será amado, mas sim abandonado e traído em sua confiança. O sujeito percebe o ED como uma verdade a priori, irrefutável e aceita como uma realidade intrínseca, essencial.

A definição de um Esquema Desadaptativo é:

• um padrão amplo e pervasivo (que se infiltra de forma indesejada)

• composto de memórias, emoções, cognições e sensações corporais

• envolvendo a si mesmo e a relação com os outros

• desenvolvido durante a infância ou adolescência

• elaborado através da trajetória de vida da pessoa

• disfuncional em grau significante

Outras características importantes dos EDs são seu caráter autoperpetuador e sua resistência à mudança. Mesmo que o sujeito seja enormemente bem sucedido na vida, isto não acarretaria alteração do esquema disfuncional. Os EDs são o núcleo da auto imagem, e vão realizar uma série de manobras cognitivas, distorcendo o processamento para manter os esquemas. São, na realidade, um sistema de expectativas rígidas sobre si mesmo e o mundo. Por isso precisam ser modificados estrategicamente.

Os esquemas são ativados por eventos significativos para a pessoa, como, por exemplo, uma atribuição difícil para uma pessoa com esquema de fracasso, que pode acionar pensamentos autoderrotistas com elevada carga emocional (“não vou conseguir” ou “vou falhar e ser demitido”).


Domínios de Esquemas
Os Esquemas Desadaptativos originam-se pela combinação de fatores biológicos e temperamentais com os estilos parentais e as influências sociais às quais a criança é exposta. Uma criança de temperamento tímido pode estar mais predisposta a apresentar um esquema de isolamento social, e outra biologicamente hiper-reativa à ansiedade pode ter mais dificuldade de superar a dependência em direção à autonomia.
Existem cinco tarefas desenvolvimentais primárias que a criança necessita realizar para se desenvolver de forma sadia – conexão e aceitação, autonomia e desempenho, auto-orientação, limites realistas e auto-expressão, espontaneidade e prazer.

Quando não consegue avançar de forma sadia em função de predisposições temperamentais e experiências parentais e sociais inadequadas, a criança pode desenvolver EDs em um ou mais domínios de esquema. Ou seja, problemas no estabelecimento de conexão com as outras pessoas e de um sentimento de aceitação por parte dos outros leva a desenvolver EDs no domínio Desconexão e Rejeição; dificuldades na aprendizagem de autocontrole e senso de limites podem induzir EDs no domínio Limites Prejudicados, e assim por diante.

São identificados 18 Esquemas Desadaptativos, que são agrupados em cinco categorias amplas de necessidades emocionais não-satisfeitas a que chamamos de “domínios de esquema”.


Domínio I: Desconexão e Rejeição
Pessoas presentes neste domínio sentem-se incapazes de formar vínculos seguros e satisfatórios com outras pessoas. Acreditam que suas necessidades de estabilidade, segurança, cuidado, amor e pertencimento não serão atendidas.
Os esquemas envolvidos são:

Abandono, Desconfiança/abuso, Privação emocional, Defectividade/vergonha e Isolamento social/alienação.

Origem: As famílias costumam apresentar instabilidade, frieza, rejeição ou isolamento do mundo exterior. Qualquer tipo de abuso na infância. Brigas em casa. Criança ignorada. Divórcio ou falecimento dos pais. Pais mentiam. Pais emocionalmente distantes. Falta de experiências sociais positivas. Pais rejeitadores. Família muito crítica.


Domínio II: Autonomia e Desempenho prejudicados
Autonomia é a capacidade de separar-se da própria família e funcionar de forma independente, no nível de pessoas da mesma idade. As pessoas com esquemas nesse domínio têm expectativas sobre si próprios e sobre o mundo que interferem em sua capacidade de se diferenciar das figuras maternas e funcionar de forma independente.
Os esquemas envolvidos são: 

Dependência/Incompetência, Vulnerabilidade a danos e/ou à doenças, Emaranhamento e Fracasso.

Origem: Quando crianças, na maioria dos casos, os pais/cuidadores lhes satisfaziam todas as vontades e os superprotegiam, ou, no extremo oposto (muito mais raro), quase nunca cuidavam nem se responsabilizavam por eles. (Ambos os extremos levam a problemas na esfera da autonomia). Com frequência, os pais solaparam sua autoconfiança e não reforçaram os filhos para que tivessem um desempenho competente fora de casa. Como resultado, quando adultos, tornam-se incapazes de moldar sua própria identidade e criar sua vida, nem de estabelecer objetivos pessoais e dominar as habilidades necessárias. Com relação à competência, permanecem crianças durante boa parte de suas vidas adultas. Pais não encorajaram a criança a ser independente e desenvolver confiança em cuidar de si mesmo. Também, pais excessivamente preocupados que passaram a ideia de um mundo perigoso. Pais medrosos. Família que abala a confiança em si mesmo. Família superprotetora. Pais que ajudam nas mínimas dificuldades. Ou pais que não dão orientação. Pais que não ajudam. Pais controladores.

Domínio III: Limites prejudicados
Pessoas com este esquema não desenvolveram limites internos adequados em relação a reciprocidade ou autodisciplina e podem ter dificuldades de respeitar os direitos de terceiros, cooperar, manter compromissos ou cumprir objetivos a longo prazo. Muitas vezes são egoístas, mimados, irresponsáveis ou narcisistas.
Os esquemas envolvidos são:

Merecimento/arrogo e Autocontrole/autodisciplina insuficientes.

Origem: Famílias exageradamente permissivas ou indulgentes, sem limites do que é socialmente adequado. Criança que aprendeu demasiado senso de superioridade. Não aprendeu cooperação e reciprocidade. (O arrogo pode, às vezes, constituir-se em uma forma de hipercompensação de outros esquemas como privação emocional. Nesses casos, o excesso de tolerância não costuma ser sua origem primeira). Quando crianças não lhes foi exigido que seguissem as regras aplicadas a todas as outras pessoas, que considerassem os demais ou que desenvolvessem autocontrole. Como adultos, carecem da capacidade de restringir seus impulsos e de postergar a gratificação em função de benefícios futuros.


Domínio IV: Direcionamento para o Outro
As pessoas neste domínio enfatizam em excesso o atendimento às necessidades dos outros em lugar de suas próprias. Elas fazem isso para obter aprovação, manter a conexão emocional e evitar retaliações. Quando interagem com outras pessoas, tendem a se concentrar exclusivamente nas solicitações destas em detrimento de suas próprias necessidades, e por vezes, não tem consciência de sua própria raiva e de suas preferências.

Os esquemas envolvidos são:

Subjugação, Auto sacrifício e Busca de aprovação/Busca de reconhecimento.

Origem: Quando crianças, não eram livres para seguir suas próprias inclinações. Como adultos, em lugar de se voltarem para si, voltam-se para fora e seguem os desejos alheios. A origem familiar típica, caracteriza-se pela aceitação condicional; as crianças devem restringir aspectos importantes de si mesmas para obter amor ou aprovação. Em várias dessas famílias, os pais/cuidadores valorizam suas próprias necessidades emocionais ou a “aparência” mais do que as necessidades únicas da criança.


Domínio V: Supervigilância e Inibição
Os pacientes com esquemas nesse domínio suprimem os seus sentimentos e impulsos espontâneos e se esforçam para cumprir rígidas regras internalizadas com relação a seu próprio desempenho, à custa da felicidade, auto-expressão, relaxamento, relacionamentos íntimos e boa saúde. Essas pessoas transmitem uma sensação de pessimismo e preocupação, pois temem que suas vidas possam ruir se não estiverem alertas nem forem cuidadosas o tempo todo.

Os esquemas envolvidos são:
Negativismo/pessimismo, Inibição emocional, Padrões inflexíveis/postura crítica exagerada e Postura punitiva.

Origem: Infância severa, reprimida e rígida na qual o autocontrole e a negação se si próprio predominaram sobre a espontaneidade. Quando crianças, essas pessoas não foram estimuladas a ter momentos de lazer e a buscar ser feliz, e sim a estar supervigilantes em relação a eventos negativos na vida, e a considera-la triste.


A Terapia do esquema é um modelo de psicoterapia cognitiva desenvolvida por Jeffrey Young focalizado no tratamento de diversos transtornos de personalidade. A terapia do esquema tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, chamados esquemas. Como visto acima, os Esquemas Iniciais Desadaptativos são estabelecidos na infância a partir da relação da criança com os cuidadores e por terem sido eficazes em algumas situações são interpretados como eficazes em diversas outras situações persistindo até a idade adulta.

A primeira parte da terapia consiste em identificar esses esquemas iniciais desadaptativos, relacioná-los aos problemas do presente e a compreender as suas origens no passado. Para identificá-los, Young desenvolveu o Questionário de Esquemas de Young (YSQ) e o Inventario Parental de Esquemas (YPI). A segunda parte é a mudança de esquema, onde o paciente é estimulado ativamente a mudar seu esquema de pensamentos desadaptativos para algo mais saudável e eficiente usando registros de pensamento, imagens mentais e exemplos contextualizados às exigências atuais. Por fim, na terceira parte, envolve mudanças efetivas de comportamento a longo prazo.


Fonte:Terapia do Esquema. Jeffrey E. Young. Artmed Editora.


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