Amor e Perda: O que você pode aprender

O sentimento de perda está relacionado com algo que nos foi ou é significativo, e do qual nos vimos afastados de voltar a usufruir. 

Sem amor não existe sentimento de perda. Sem criarmos um forte laço a algo ou a alguém, sem criarmos uma relação com as coisas ou com as pessoas, não podemos experienciar o sentimento de perda.

O sentimento é um marcador que sentimos no nosso corpo na forma de sensação, que se completa com imagens e pensamentos, emergindo uma construção no nosso organismo que nos coloca num determinado estado de ser.

Sem essa experiência marcante no nosso organismo, associado a algo extremamente significativo para nós, nunca sentiríamos a perda. A perda, de certa forma, é o impacto sentido por deixarmos de poder nos relacionar diretamente com a “fonte” de um dos nossos amores.

Uma das provas mais dolorosas que enfrentamos na vida é o sofrimento da perda do amor. E, num determinado ponto da nossa vida, nas mais variadas formas, todos, sem exceção, experimentamos o sentimento de perda.

Saber aceitar a perda

Saber aceitar a dor emocional associado à perda, é um passo fundamental para o restabelecimento da nossa vida. Assim como é importante trabalhar no equilíbrio emocional no sentido de não nos fecharmos em nós e perdermos o nosso bem mais preciso, a nossa capacidade de amar.


“A sua tarefa não é procurar o amor, mas apenas procurar e encontrar todas as barreiras dentro de si mesmo que você construiu contra ele.” – Rumi

Apresento algumas estratégias que certamente podem ser úteis para a superação de momentos difíceis que possa estar enfrentando:


1 – Não se arrependa do bem que fez e dos ideais pelos quais viveu

Quando nos ligamos a alguém de forma significativa ou a algo, como uma causa, um objetivo que nos move, ou até mesmo um sonho distante no qual depositamos as nossas esperanças, investimos e damos muito de nós mesmos.

E, por essa mesma razão nos mantemos firmes nesse caminho, o caminho do qual também retiramos retorno positivo na forma de bem-estar, felicidade e realização pessoal. Mas, como tudo na vida muda, e por vezes termina, também o alvo da nossa dedicação, entusiasmo e amor pode terminar ou mudar.

Na grande maioria das vezes, quando um relacionamento do qual gostamos termina, quando o nosso objetivo não é alcançado, ou ficamos desiludidos e decepcionados, podemos ser impelidos ao arrependimento. E o arrependimento é um sentimento que no seu extremo pode manchar o nosso passado, os bons momentos vividos, pode denegrir o esforço que fizemos, os ideais pelos quais vivemos, conduzindo-nos à amargura e rancor.

Estes tipos de sentimentos negativos e depreciativos, nada de bom nos acrescentam, pelo contrário, nos endurece, nos angustia e podem impedir que caminhemos bem com a nossa vida.

Por tudo isto, se sentir arrependimento, analise melhor a sua situação de vida passada. Tente entender as razões às quais se dedicou e investiu o seu tempo. Que valores pessoais suportaram as suas decisões e caminhos.

Certamente as suas escolhas, dizem muito de você mesmo. E, quando somos honestos conosco, quando nos movimentamos pelos nossos interesses genuínos, estamos fazendo o que tem de ser feito.

Os resultados, em determinado grau estão fora do nosso controle. Não podemos, nem devemos controlar os comportamentos, as escolhas ou as decisões dos outros. 

O que nos ajuda é pormos em perspectiva um caminho que nos sirva, não um que nos conduza ao mesmo resultado.


2 – O amor e a perda nos acrescentam valor

O amor, acrescenta-nos valor. No entanto, quando esse mesmo amor nos causa problemas ou nos conduz à perda, pode não ser bem assim. 
Ficamos desesperados, ressentidos, com um buraco no coração, e podemos perder a perspetiva maior, nos vitimizar, olhar apenas o lado negativo, e totalizarmos a experiência como catastrófica. 

Se olharmos para o enriquecimento que é poder nos ligar e estabelecermos relação próxima com as pessoas, com o meio e conosco, provavelmente nos colocamos numa posição de maior entendimento. O entendimento que nos permite ficar cientes do valor que dista entre o amor e a perda.

Essa manifestação de vida que nos enriquece a todos. Sim, tem um preço, o preço elevado da dor associada ao que era nosso, ao que nos dedicamos, ou a quem se dedicou a nós e que irremediavelmente termina. Bem, na verdade não termina, a experiência vive em nós, o valor da experiência vive em nós.


3 – Perdoe a si, aos outros e à vida

Perdoe a todos. Melhor ainda, perceba que todos somos falíveis. Todos somos condicionados pela vida. Construímos um modelo de atuação no mundo e, com isso em mente, vamos esculpindo a nossa personalidade.

A nossa personalidade vai sendo edificada através de alguns traços e características que se vão enraizando de acordo com as nossas crenças, que influenciam a história de vida de cada um de nós. E, por vezes essa história de vida não é a que mais desejávamos ter tido, assim como a história de vida de outros pode interferir negativamente na nossa.

Na verdade, não temos de aceitar passivamente todos os erros, falhas, fracassos ou más ações que fazemos ou que os outros nos infligem a nós. No entanto, podemos nos esforçar para minimizar as nossas próprias sabotagens, assim como os danos causados pelos outros, não nos vitimizando. E isso é exatamente aquilo que está sobre o nosso controle. Não instituirmos uma mentalidade de vítima.

Não temos que gostar, não temos que carregar a vida dos outros nas costas, ou até mesmo viver à sombra do nosso passado. Podemos nos esforçar para enquadrar, entender, e perceber que devido a determinadas circunstâncias, algumas coisas tinham de acontecer, tal como aconteceram.

Acresce ainda o fato da vida às vezes se impor com toda a brutalidade, com toda a sua natureza incerta. A vida às vezes nos prejudica, nos inflige perdas. Esse impacto arrebatador pode nos deixar indignados com a própria vida, e nos levar a um caminho de ressentimento crônico.

Para que isso não aconteça, importa acionar o entendimento, aceitar e perdoar, para que o amor possa voltar a sentir-se no coração e a paz nos acompanhe no dia a dia.


4 – Pratique a gentileza, compaixão e compreensão sem se colocar pra baixo

É fundamental acalmarmos o nosso espirito quando estamos passando por angústias ou qualquer outra decepção. O impulso para as reações negativas pode ser grande. O sentimento de injustiça pode emergir e com isso progredir para a raiva, que por sua vez pode nos impelir a algum tipo de vingança.

Um caminho mais assertivo é usarmos a nossa consciência e inteligência para que possamos nos voltar para nós mesmos e perceber que tipo de estado de espirito melhor nos serve. Que estado de ser pode ser mais vantajoso quando caminhamos entre o amor e a perda? Certamente tentarmos recuperar o equilíbrio emocional será um objetivo primordial para a recuperação.

Abandonar a crítica negativa sobre nós mesmos é um passo inicial a ser dado para que possamos ficar de bem conosco. Neste estado de ser ficamos com a mente mais clara para perceber que se formos simpáticos e compassivos com os outros, o fardo da perda torna-se mais suportável. O nosso coração reconhece que temos espaço e razões para recuperarmos e voltar a olhar a vida de frente e com significado.


5 – Não resista, nem queira suprimir as emoções negativas

Não resista às suas emoções. Sinta a tristeza, a dor e o luto. Expresse, chore, grite, isso permite que os seus sentimentos fluam ao invés de ficarem engarrafados. Você tem que permitir que as suas emoções sigam o seu curso.

Aceite as emoções negativas. Fique ciente dos pensamentos negativos que podem vir associados a essas emoções, e se não forem úteis, não os siga. Não lhes dê ouvidos. Ao invés, permaneça com as suas emoções, certamente justificam-se de acordo com o momento que atravessa.

As emoções negativas emergem associadas a algo bom que deixamos de ter.
Quanto mais ligados estamos ao que perdemos, maior é o impacto das emoções negativas, assim sendo, elas estão ligadas ao que nos era querido. E por esta razão devemos senti-las. Fazem parte de nós, do que vivemos.


6 – Dê uma folga a si mesmo

Não há problema em tirar um dia (ou dias) de folga. Faça o que você precisa fazer para recuperar, curar e recarregar. Fique sentado em casa no sofá o dia todo a assistir a filmes, se for preciso. 

É bastante difícil atravessar a dor emocional, superá-la como se nada fosse e levando a vida tal qual ela é, com todas as suas exigências. Perante a perda é importante abrandar, não devemos querer desempenhar o papel do Super Homem ou Mulher Maravilha. Devemos sim querer recuperar. Não devemos nos paralisar no descanso, mas podemos muito bem passar por ele. É uma fase de recuperação com tempo limitado.


7 – Baixe a guarda do seu ego

Desligue o seu ego. Dê-lhe descanso. O seu ego vai querer olhar para trás com arrependimento. É uma forma de proteger a si mesmo. Ele vai querer perguntar:

E se…
Se eu tivesse feito…
Porque as coisas não funcionaram?
Porque não percebi mais cedo que ele era um idiota?

Faça as pazes com o passado, aceite-o e siga em frente. 


8 – Você merece toda a felicidade do mundo

Quando pouco a pouco vamos colecionando perdas, mais parece que algo está contra nós, que pela forma como conduzimos a vida, não merecemos ser felizes. É pura ilusão. É uma construção da mente, numa tentativa de justificar o injustificável.

Todos merecemos ser felizes. Você merece ser feliz. No entanto a felicidade não se materializa por merecimento, é preciso fazermos por isso. Assim que você enraizar a crença de que merece ser feliz, fica mais propenso a agarrar as oportunidades que surjam e que possam ser viáveis de ter um retorno positivo.

9 – Amar vale a pena

Mesmo que possamos ter tido experiências negativas de amor, quer seja com pessoas ou mesmo com algo a que nos dedicamos de coração, vale sempre a pena amar. A experiência que se sente na vibração da expressão de amor, é algo que nos alimenta a alma, que nos impulsiona a darmos o nosso melhor.
Vale a pena, apesar das dificuldades e do sofrimento que às vezes se experiencia. 

Lembre-se sempre da sua grandiosidade, da sua capacidade para amar, do lado bom das coisas e das pessoas, assim você nunca se contem, permitindo desejar o expoente máximo da expressão humana, amar.

Há uma luz no fim do túnel, vale a pena amar, mesmo percorrendo os lugares escuros, a fim de alcançar a luz. Você não está sozinho. Certamente terá sempre por perto alguns dos seus amigos e familiares pronto a apoiá-lo e incentivá-lo. 

Preencha a sua vida com atitudes positivas e ame as pessoas. Você é mais forte e mais resistente do que você pode imaginar.

Fonte: Miguel Lucas (Adaptado)

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